Te escrevo num dia em que não dei aula.
Na verdade, dei aula sim - de manhã e no fim da tarde. Mas, nesse dia (que já é noite), não tive a última aula. Tive tempo, no lugar dela.
E desse tempo fiz, junto da Luna e meus cachorros, um passeio que durou exatamente o quanto eu quis. E pude consolar sem pressa o choro que veio depois do encontro inesperado entre pares: um de caninos, um de felinos, outro de humanas.
Transformei em brincadeira o que poderia ter sido obrigação; vi minha filha ser dona da noite, da chuva e da Inglaterra enquanto cantava que "ela vem e ninguém mais bela vem em minha direção".
Percebi que mais um ano está chegando ao fim e eu ainda tenho só vinte e tantos... Das fases que vivi, a que mais me faz falta é aquela em que todo o tempo parecia muito e a vida parecia pouca.
Olho pra trás e, daqui, a vista é oposta: todo o tempo é pouco e a vida parece ser demais. Agora tem também a morte que, antes, era só licença poética.
Terminei esse dia com a Marisa e a estrada na cabeça porque ter tempo me lembra de ser mais quem eu sou e menos o que eu faço. Ô uô uô tonight, tonight.