Sozinha não dou conta
Faz um tempo que eu não escrevo mas há alguns dias minha sorte pessoal me foi escancarada ao mesmo tempo em que a delicadeza da vida e isso me fez voltar pra caneta e pro papel pra anotar o que eu não quero esquecer.
Acordei numa quinta feira e li um amigo querido na mesma frase que uma doença matadora, o que fez com que meu coração parasse de bater por um milésimo de segundo pra, logo em seguida, voltar a bater com força e insistência típicas de quem já sabe que não basta continuar vivo, só.
Li no mesmo dia alguém que escreveu também sobre a vida e a morte, o amor e toda essa dor: "nós continuaremos a andar no mundo. O Sol surgirá sempre, indiferente a nossas tragédias pessoais. A noite cobrirá o que nos é caro".
Entre um crepúsculo e outro, vivemos o privilégio dos encontros entre as pessoas. A vida sem elas é um inverno rigoroso mas o Sol surgirá sempre - eu completei, pegando pra mim as palavras e transformando com elas o sentimento dela em um sentimento meu.
Depois lembrei de uma citação atribuída ao Cazuza mas que talvez não seja dele que eu li quando era mais novinha do que sou agora, quando eu passava as tardes republicando poesia; associei ao amigo porque sei que ele não só gostaria como entenderia e copio ela aqui, pra que você talvez entenda e eu talvez não esqueça.
Eu tenho amigos por toda parte. Na praia, cinema, teatro, favela. Amigo jornalista, garçom, vagabundo. Meu negócio não é somar, é multiplicar. Sozinho não dou conta. Eu ando em bando, camuflado, descarado, fazendo festa. O tempo inteiro me sinto em casa, no meio da rua, na madrugada, na multidão. Eu sou da tribo do abraço.