Peguei as rédeas da minha vida — e queimei
ou "O ano em que eu não quis morrer porque, de repente, fez muito mais sentido viver".
(Para ler ouvindo You Can Have It All, da Yo La Tengo)
Vivi muito em 2024. Te escrevi pouco, eu sei, mas registrei em cadernos e memórias (digitais e analógicas) quase tudo que me aconteceu. Te conto alguns destaques:
Estive em três estados, seis cidades, inúmeros bairros. Conheci pessoas. Fui reconhecida algumas vezes. Me apaixonei.
Fui muito sincera com os outros e comigo mesma. Não menti pra minha psicóloga. Fiz terapia o ano todo.
Nadei em águas geladas, congelantes. Tomei banhos de chuveiro, banheira, chuva, mar e cachoeira — sozinha e acompanhada. Andei a pé, de carona, patins, moto, ônibus, metrô, barco e avião.
Voltei a fazer aulas de teatro e dança do ventre, continuei no jazz, dancei um monte de coreografias. Participei de oficinas, semanas temáticas, palestras, eventos, rodas de conversa.
Li 48 livros, mas passei o ano inteiro repetindo a mesma pergunta e me referindo ao primeiro deles: “você sabe o que é um ocapi?”. (Se não sabe, eu te conto aqui.)
Estabeleci regras que eu mesma quebrei logo em seguida, insistindo em me reservar o direito de mudar de ideia — sempre. Entrei na fila da laqueadura e cogitei ter 5 filhos depois de 2 dates. Reconsiderei minhas certezas de novo e de novo e de novo. Me mantive coerente com a minha incoerência.
Escrevi o roteiro de um curta-metragem e ajudei o Rato Seco a ganhar vida. Não pensei em me matar, nem em me deixar morrer. Acho que não quis matar ninguém.
Dormi muito com a Luna. Na ausência dela, dormi pouquíssimo. Afinal, mãe também é gente — e eu sou artista e preciso pecar, lembra? Fiz drama, mas não muito. Tive picos de energia e pouquíssimas quedas; de modo geral, me incomodei bastante com o tédio e raras vezes reclamei de sono.
Fiz escolhas duvidosas e aproveitei cada segundo das consequências delas. Me arrependi depois de algumas e lidei com episódios de ressaca moral. Fui surpreendida positivamente pelas pessoas. Sei que algumas vezes surpreendi, também.
Fiz novos contatos, assinei alguns contratos, estreitei diversos laços. Recebi uma promoção e um aumento. Matei algumas plantas e incontáveis baratas. Comemorei meu aniversário com amigos queridos no quintal da minha casa. Assisti pouca coisa na TV. Cozinhei quase todos os dias. Comi muito pão. Fiz vários bolos que deram certo. Entrei para uma CSA. Engordei seis quilos.
Ganhei um presentão lindo e inesperado de natal.
Chorei de aflição e riso simultaneamente numa sala de estar onde, por alguma razão, sempre faz um calor gostoso de sentir. Me derreti nessa sala mais de uma vez em poucos dias — muito mais por conta de fofura e paixão que de calor.
Cumpri quase todas as metas que defini em janeiro.
Mas…
Não viajei sozinha. Não guardei dinheiro. Não descobri a causa da hemorragia que tive em setembro e que me tira o sono até hoje. Não comecei um tratamento que já está há anos na lista de afazeres.
Não retomei minha graduação. Não fui pra Natal com o Gab, não visitei a Maria e o João em BH, não estive com minha avó. Não recebi outro aumento, apesar de precisar muito. Não usei meu passaporte. Não ganhei a competição de leitura que travei comigo mesma. Não fui atrás dos meus direitos.
Não me cobrei menos. Não deixei de me indignar.
Dito isso,
repito que vivi muito em 2024. E, dessa vez, a chegada de um novo ano não me traz a urgência por um recomeço.
Não quero voltar pro início porque sinto que já percorri um longo caminho e estou finalmente chegando em algum lugar. Aí me vem na cabeça aquela música do Emicida e eu sei que tenho razão em pensar assim: cê quer saber o sentido da vida? Pra frente.
Em meio a tanta coisa que passa, em 2025 eu quero ser aquela que continua.
Obrigada por estar comigo em mais um ano.
Feliz 2025 pra você!
Amiga, pela primeira vez me sinto assim também. Não quero recomeçar, não quero mudar. Só quero continuar e melhorar conforme posso. Vamos juntas! Lindo texto!
Continue em frente 🥰