Essa semana eu chorei na rua
e decidi voltar a escrever o hoje — para que o amanhã não fique sem um ontem.
(Para ler ouvindo For no one, dos Beatles)
Essa semana eu ouvi a música mais bonita de todos os tempos e chorei de solidão enquanto caminhava em uma rua cheia de gente.
Senti saudade de quem, naquele momento, me pareceu a única pessoa no mundo que com certeza fecharia os olhos comigo e se deixaria arrebatar pelo solo de trompa mais triste já composto na história da humanidade.
Desejei com todas as forças sentir de novo o que eu nunca mais senti: o aconchego de saber, mesmo sem perceber, que sou porque alguém mais também é. A leveza de não conhecer tudo o que conheço agora — por ter caído em armadilhas e, assim como tantas outras, não ter escapado.
Repeti a música e sofri por um amor que não é meu, mas dói como se fosse. Chorei por tudo o que acaba antes mesmo de a gente conseguir perceber que acontece; pelas pessoas que não estão mais aqui e depois por todas aquelas que estão, e um dia não vão mais estar.
Cantei sozinha a letra que decorei quando meu Inglês não era proficiente, quando não tinha me rendido dinheiro nem uma carreira que eu decidi abandonar.
Desabei em lágrimas pela pessoa que eu fui e também por quem me tornei — porque hoje sou outra mas preferia ter permanecido a mesma, e sentir o que sinto agora com o coração que eu tinha antes.
Chorei em pé na calçada porque já se passaram muitos anos desde a última vez em que chorei deitada em um colo. Chorei por tudo o que eu fui, por tudo o que não sou mais e por tudo o que vou ser pra sempre — a mesma, mas outra.
Ouvi a música repetida tantas vezes que perdi a conta. Depois sequei as lágrimas e passei para a próxima, porque não sobrava mais tempo para nadar nesse mar de coisas que eu sinto tanto.
O choro eu guardei no bolso, e esse texto no bloco de notas.
O que eu ouvi
O choro dessa semana me rendeu o texto que você acabou de ler e, também, a inspiração para compilar em uma playlist as palavras do Paul McCartney que me ajudam a sair da inércia e encontrar espaço para voltar a sentir.
Antes de me despedir, uma tarefa pra você:
Compara as palavras do Paul em For no one com as do Herbert Vianna em Ela disse adeus. A gente acha que sente as coisas individualmente, mas a música existe como um lembrete de que tudo nesse mundo é coletivo — ainda bem.
Eu volto na semana que vem!
Que lindo, Fer. A gente sente e em algum lugar sempre tem quem sente igual, mesmo que diferente. "Lágrimas pir ninguém, só porque é triste o fim"
eu tenho me sentindo assim tantas vezes e por tantos motivos diferentes que acho que já me perdi. reconheço minha dor na sua, a sua na minha e não sei o que fazer... mas me alivia estar acompanhada <3