A lista quilométrica
Hoje eu quero te contar sobre o fim de semana que passou; tenho refletido muito sobre as várias maneiras que existem de levar a vida. Percebi que, sendo levada - e, muitas vezes, engolida - pela onda dos acontecimentos, não tive muito tempo pra planejar minhas direções.
Eu vivo uma rotina de afazeres e obrigações que me agrada e me consome na mesma proporção - prefiro Toddy ao tédio. Todo domingo eu faço uma "lista de despejo" onde escrevo as coisas que precisam ser resolvidas na semana que vai chegar, numa tentativa de tirar da minha mente a tarefa impossível que é lembrar. Depois do despejo eu distribuo as tarefas de cada dia ao longo da semana e me empenho em riscá-las uma a uma conforme a vida passa. É assim sempre: a lista quilométrica me encarando no domingo e o corpo já cansado sentindo que a semana que vem foi exaustiva.
Mas esse fim de semana foi diferente porque eu fiz só o que eu quis. No sábado lavei o quintal, arrumei a minha casa e construí uma fogueira. Andei de bicicleta com a Luna e trouxemos pra casa as madeiras secas que cruzaram nosso caminho; acendemos a fogueira. No domingo eu acordei cedo, li Veríssimo narrando a banalidade da vida genérica, comi frutas e repeti o fim de tarde do sábado, dessa vez com o Theo junto.
Desde que eu me mudei pra essa casa, há exatamente um ano, um mês e dois dias, planejo fazer uma fogueira no quintal. A vida foi acontecendo e a rotina foi se instalando... a fogueira nunca entrou na lista de domingo. Nem ela, nem a iluminação que eu quero pro quintal, nem a terra que a horta tá precisando, nem a prateleira de plantas do quarto, nem a restauração da mesa da sala.
Sábado eu construí essa fogueira e lembrei de algo que eu já sabia mas ainda não tinha anotado: eu não quero viver uma lista de afazeres a serem realizados; a minha vida vai ser de acordo com os meus próprios prazos.